As Bordadeiras de Sinhá, as Mulheres do Jequitinhonha e as Mulheres do Urucuia Grande Sertão se encontraram para bordar e trocar experiências.
Elas compartilham seus pontos e a sua identidade, trocando histórias e os seus conhecimentos bordados.
Meninas de Sinhá
Alto Vera Cruz – BH
1° e 2 de junho de 2023
Rose veio de Serra das Araras. Tereza, de Bonfinópolis. Chegaram com alegria, doçura e muita generosidade para compartilhar com as Bordadeiras de Sinhá a experiência com as linhas e agulhas do Nordeste de Minas, onde existem muitas mulheres que fiam, tecem e bordam, inspiradas em pássaros, árvores do cerrado, veredas, paisagens e ofícios da região, território que inspirou Rosa a escrever seu Grande Sertão Veredas. Os bordados, que misturam diversos pontos, trazem ainda a força da festa de São Gonçalo, com suas dançantes e arcos enfeitados.
Padroeiro dos violeiros e Santo casamenteiro, São Gonçalo do Amarante / não é como os outros Santos / os outros Santos querem reza / São Gonçalo quer que cante. E foi justamente o canto que encheu os olhos das convidadas e embalou a roda do bordado. Afinal, o encontro foi inspirado na Menina de Sinhá Ephigênia, que conheceu a tradição das festas de São Gonçalo com sua avó, que era de Januária. Ephigênia, inspirada nessa memória, compôs uma cantiga de São Gonçalo! Por todo o dia, entre muitas risadas e conversas, a cantoria soou no salão, puxada pela presença de Rosária, Seninha, Niuza, Mariinha… Rose também compartilhou os versos cantados a São Gonçalo e ainda trouxe de lá uma imagem que ficou ali, a espiar tantas brincadeiras com seu nome. Afinal, a especialidade do Santo é casar as mulheres mais velhas!
Do bordado do Grande Sertão, Rose e Tereza trouxeram os pássaros e a dança de São Gonçalo para partilhar com as Bordadeiras de Sinhá. Os pontos do bordado, cada uma tem aqueles de preferência, os que dominam mais, os que se dedicam a aprender ou ensinar. Já conhecidos, os pontos se misturavam nas escolhas de cada uma no fazer do bordado: palestrina, rococó, atrás, alinhavo, nó francês, picuru, pé de galinha, cadeado, caseado, cestaria, cheio, folha, rosa, ostra, margarida…
E as linhas dos bordados, dando voltas miúdas nas agulhas, foram se tornando um fio sem fim de afetos, confidências, lembranças e muita troca de saberes. No final, a chegada de Gegê, Ephigênia, Dorvalina, Sueli e Líbio transformou tudo em uma imensa festa de São Gonçalo. Viva São Gonçalo, viva! E disse Rose ao se despedir: “Isso vai ficar pra vida”.
Letícia Bertelli